segunda-feira, 30 de maio de 2016

"Da Penha vê-se o mar"



Chamem-me Ismael”, assim começa um dos mais espantosos romances da literatura, em que o mar e o fascínio que este lança sobre os homens e mulheres de todos os tempos, é o personagem principal. Falamos, claro está, de Moby Dick, de Herman Melville. Tal como Ismael nos conta «…Vejam as multidões que aí comtemplam a água. Deambulem pela cidade numa lânguida tarde de domingo…O que veem? Postados como sentinelas silenciosas por toda a cidade, são aos milhares os mortais com o olhar sonhador perdido no oceano…», também gerações e gerações de habitantes deste burgo medievo, sentiram e sentem o apelo do Mar.




E àqueles, de outros tempos, que nunca o viram, apesar da curta distância que nos separa do litoral, chegavam notícias prodigiosas das riquezas e perdições que o Mar trazia e levava e, descendo mais no poço do tempo, ainda se encontram histórias de saqueadores - gigantes loiros - vindos do norte da Europa e que subiam pela foz do rio Ave até às mais prósperas povoações. Múltiplas são pois as referências ao mar, quer na tradição popular quer na tradição literária (por exemplo “os Pescadores” de Raul Brandão, autor intrinsecamente ligado a esta cidade e concelho).



Assim, desde a noite dos tempos, se foram construindo lendas, tradições e saberes em torno do Mar, como, por exemplo, a do “Olho Marinho” ou “Braço de Mar” que, segundo a tradição oral e os registos do “pai” da arqueologia portuguesa, o vimaranense Martins Sarmento, se traduzia numa imensa corrente subterrânea de mar que ligaria os pontos mais altos do concelho (monte da Penha, monte da Senhora dos Montes…) ao litoral. E o desejo e apelo do Mar é tão forte que há quem jure, a pés juntos, que se consegue, do alto da Penha, em dias propícios, ver o mar da Póvoa de Varzim. Cidade esta que ocupa um lugar incontornável nas memórias da cidade e do concelho pois foi, desde “sempre”, a praia para onde rumavam os vimaranenses e cuja importância vemos refletida no livro «A Construção Social da Praia» da investigadora vimaranense Helena Ferreira Machado.

É pois no profícuo cruzamento das lendas, contos e saberes do mar – orais e escritos - com as representações que dele fazemos que se vai articular o presente projeto.


Deixamos aqui um belíssimo texto constante do anuário de  1992-1993 da ACIG (Associação Comercial e Industrial de Guimarães) sobre o Monte da Penha.

    Monte da Penha

    Da Penha




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